Quarentena Assintomática – V
Autora: Maria Lúcia Saraiva
Era uma vez uma Menina
Nem todos os princípios de vida são fáceis e felizes para alguns…
Vou contar uma história começando da forma tradicional:
Era uma vez, uma menina, simplesmente uma menina, com muitos sonhos; muito sensível, uma sonhadora que se sentia muito só, com fantasmas, (próprios da idade), apesar de viver numa numerosa Família…
O seu rosto era marcado por uns olhos negros brilhantes, um nariz arrebitado e perfeito e uma boca bem delineada que poderia expandir-se em sorrisos, mas não, a sua expressividade era de tristeza.
Quando ela ia passar férias na casa de campo, pediu a um dos empregados para lhe fazer um baloiço no imbondeiro, junto ao rio, e aquele lugar, passou a ser o seu refúgio, pensava no «Zezé – do livro Meu Pé de Laranja Lima» -, aquela gigantesca árvore passaria a ser a sua confidente e falava com ela sobre os seus medos e anseios e perguntava-lhe o que fazer, para os ultrapassar, e a resposta vinha nos cânticos e chilreios bem animados da passarada.
Cresceu, fez-se mulher de trato simples, muito meiga e tímida, talvez por isso, todos gostavam dela.
Não precisava de muitos enfeites, para dar nas vistas, porque ela exibia uma postura corporal e uma beleza peculiar.
A sua infância fora de aprendizagem imposta, teve que se dedicar aos bordados, à costura, ao tricot, ao crochet, aos tachos, a arrumação de uma casa e a mesa de refeições tinha que ser posta com todo o rigor e requinte, ainda que fosse a comida mais simples. Uma verdadeira «Dona de Casa».
O seu olhar era triste e já carregava alguma dor de histórias da sua infância mal resolvidas ou impróprias para a sua tenra idade. Ainda assim o seu propósito não se alterou e manteve a determinação em realizar os seus sonhos.
Nas noites carregadas de nuvens negras ela pintava as estrelas no céu, preenchia assim os seus vazios, e afastava as suas inseguranças, que eram muitas, não sabia ainda ao certo como delinear o seu futuro, nos seus verdes anos.
Na sua infância nunca podia ler à noite, porque não a deixavam, não havia luz eléctrica e havia o adormecer obrigatório, no dia seguinte todos acordávamos cedo para irmos para a Escola e Liceu que ficavam longe de casa. Mesmo assim às escondidas acendia o candeeiro de petróleo e ia para a casa de banho ler, pois ficava longe do quarto dos pais….e quantas noites fez isso. Dormia pouco, mas feliz.
Um dia casou, estava enamorada, mas não apaixonada, nem sabia o que era o amor. Pensava que o amor se construía. Eu acredito que sim, quando o casal é cúmplice do mesmo desejo. O facto é que esse casamento não resultou, teve dois filhos, os seus diamantes.
Muito aturou e sofreu, muitas lágrimas verteu, mas deu a ambos boas
ferramentas para se imporem no mundo do trabalho e sente-se orgulhosa, com o
sucesso dos seus filhos.
Começou a conhecer-se melhor e a questionar-se qual seria o seu papel neste
mundo, e o que pensou de certo modo tem vindo a concretizar-se.
Com esse estar assim se impôs no mundo do trabalho sempre bem sucedida. Numa das noites de insónia alguém lhe sussurrou, substitui as dores em alegria, em sorrisos e logo se apressou a mudar de atitude, rapidamente alcançou os seus objectivos.
Então veio a magia presa a um temporal aterrorizador, as árvores gemiam fustigadas pelo vento, levantou-se pegou numa caneta e papel e escreveu sobre o pânico que a assombrava e conseguiu superar o medo que a afrontava e assim o seu maior sonho começou…
Maria Lúcia Saraiva – 2020-03-27
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