Posted By on Mai 13, 2020

Quarentena Assintomática – XXXIII

EMACO


Quarentena Assintomática – XXXIII

Autora: Sibila Aguiar

O MEU POEMA

O meu poema não nasceu ainda…
O meu poema esta na voz das mamanas de macala,
Que gritam esganiçadas e derretidas de calor,
O meu poema está nas palmeiras à beira mar,
E no silvo das cobras cuspideiras
Que rastejam na terra escarlate…
O meu poema, o meu poema…
Está no estender das mãos
Dos mendigos do cais,
Cobertos de feridas e rodeados de moscas…
O meu poema, está nos batuques,
E nos tambores que transmitem mensagens ao luar…
O meu poema, o meu poema…
Não nasceu ainda…
Está no canto das aves selvagens
Cujos nomes são ainda desconhecidos…
Esta no pólen das flores tropicais…
E anda à roda nas voltas da vida…
O meu poema… O meu poema,
Está no apitar dos navios que partem…
No palpitar dos corações…
E no gemer do quissange misterioso e quente do luar africano…
Um dia, o meu poema será cinza…
O meu poema misturar-se-á com a terra,
E dele brotarão as flores mais belas,
E andará em todas as bocas…
O meu poema nascerá então!

  • Sibila Aguiar

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