Posted By on Jul 10, 2020

Sepulturas Rupestres de Cascais

EMACO


Sepulturas Rupestres de Cascais

Texto e recolha de imagens da autoria de Guilherme Cardoso

Quenena um mundo rural de raízes arcaicas

Já lá vão os longínquos anos de 1966 e 1967. O existencialismo corria-nos nas veias fervilhando o sangue adolescente.
À noite sentados sobre uma rocha, com o feitio de um banco, que dominava todo o vale da ribeira da Caneira, perscrutávamos o céu estrelado, onde devido ao afastamento das habitações e da luz emanada dos candeeiros de iluminação pública era possível apreciar todo um Universo estrelado que nos dizia quão pequenos somos para tanta grandeza.
Procurávamos encontrar, como todos com essa idade procuram, a razão do ser, do existir sem nunca encontrar respostas que completem esta eterna questão do foro da metafisica.
Foi em 1972 que nos iniciámos em arqueologia. A espeleologia e a geologia tinham-nos despertado a atenção para outra realidade que eram os vestígios humanos do passado.
Visitámos em determinado dia a sala de Arqueologia do Museu Conde de Castro Guimarães, em Cascais, olhando fixamente os artefactos pré-históricos contidos nas vitrinas de modo a decorar o aspecto do sílex e das cerâmicas. Depois saímos para a primeira prospecção arqueológica para ver se encontrávamos algo.
O local escolhido e que sempre nos deixou muitas interrogações foi exactamente aquele sítio na margem esquerda da ribeira da Caneira, a sul de Alcabideche, onde recolhi, então, lascas de sílex e fragmentos de cerâmica.
Só no ano seguinte consegui entender o que era aquele “banco” onde tantas vezes nos sentáramos. Uma sepultura rupestre medieval.
Junto a ela o antropólogo Francisco de Paula e Oliveira, em 1880, registou a presença de uma lagareta (tina escavada na rocha local que teria a função de lagar ou outra). Mais tarde, na segunda década do século XX, Félix Alves Pereira voltou a relocalizar a mesma lagareta mas já se encontrava degradada.
Ambos deixaram escrito que a referida lagareta ficava no Casal do Geraldo, que era no lado norte do actual bairro de Santo António do Estoril.
Procurámos encontrá-la durante anos mas nunca conseguimos. Desaparecera, possivelmente devido a ter existido naquele local uma exploração de saibro aproveitando o afloramento de arenito onde estavam abertas a lagareta e a sepultura.
Não sabemos a razão mas nenhum destes arqueólogos referiu a sepultura rupestre do Casal do Geraldo. Fizeram-no num noutro caso, a sepultura rupestre de Zabrizes, a sul de Bicesse e que lá continua inserida no jardim da urbanização construída nos inícios do século XXI.
A sepultura rupestre do Casal do Geraldo desapareceu na urbanização que fizeram durante a década de 80, naquele sítio. Parte daquela tumba ficou no interior da habitação e a outra no corredor de acesso às traseiras da casa.
Este tipo de sepultura pode aparecer isolada ou em grupo, caso do conjunto existente na igreja do Senhor da Boa Morte, em Vila Franca de Xira.
Os dados conhecidos para o Casal do Geraldo apontam para ter existido mais sepulturas nas redondezas mas abertas em covacho. No caso de Zabrizes tanto Paula e Oliveira como Félix Alves Pereira fizeram escavações e no lado nascente encontraram um grande cemitério mas que não conseguiram datar por não ter qualquer espólio. A Associação Cultural de Cascais também por lá escavou um casal de época Islâmica, nos inícios deste século.
As datas propostas para este tipo de tumba, por diversos arqueólogos, é que foram abertas na rocha entre os séculos IX e o XII o que nos leva a sugerir que estamos em presença de monumentos funerários moçárabes (cristãos sob o domínio Islâmico da Península).

Guilherme Cardoso. 07/07/2020. (https://www.facebook.com/guilherme.cardoso1?epa=SEARCH_BOX)

Sepultura rupestre de Zabrizes – Bicesse, Alcabideche
Sepultura rupestre Casal do Geraldo – Bairro Santo António Estoril
Sepultura rupestre do Casal do Geraldo – Bairro Santo António, Estoril.

 

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