ARQUEOLOGIA
As grutas de Alapraia
Texto e imagens da autoria de Guilherme Cardoso
A origem da palavra Arqueologia é grega e provém da aglutinação de duas palavras “archaíos”, antigo, mais “logos”, tratado. É no fundo a ciência que estuda o antigo.
Embora tenha como finalidade recriar História, difere no estudo daquela ciência que se baseia normalmente em documentos escritos, fotografias e descrições orais, para a sua análise. Para a Arqueologia qualquer vestígio material antigo é um documento de análise, servindo para interpretar os acontecimentos do passado de que não se possui descrições, possibilitando, assim, recriar a história das sociedades passadas.
Através da História pode-se fazer a biografia de uma pessoa ou a análise de uma sociedade. Em Arqueologia só se pode falar em sociedades e culturas do passado sem nunca particularizar o indivíduo, mesmo quando estamos a falar dos restos humanos encontrados numa sepultura de quem se sabe o nome, a idade e o “status”. Para o arqueólogo, a análise de uma tumba faz-se através do contexto material sepulcral, habitualmente integrável numa determinada sociedade, com costumes e cultura própria sem se poder individualizar inteiramente o defunto, pois, os objectos que são encontrados junto aos seus restos fazem parte, normalmente, da sua época e ali foram colocados por outros homens que lhe fizeram o moimento, bem como o epitáfio que o identifica.
OS PRIMÓRDIOS ARQUEOLOGIA EM CASCAIS
A arqueologia aparece em Cascais, como ciência, no século XIX, através de dois investigadores, Carlos Ribeiro e Francisco de Paula e Oliveira. O primeiro ligado à pré-história e o segundo à antropologia e aos períodos Romano e Medieval.
É no entanto Paula e Oliveira que refere pela primeira vez a existência da gruta I de Alapraia, «Antiquités Préhistoriques ét Romaines des Environs de Cascaes», Communicações da Comissão dos Trabalhos Geológicos, II, Fasc. I, Lisboa, 1888/92, p. 85-92.
Em 1897, José Leite de Vasconcelos, publica na sua obra, As Religiões da Lusitânia, volume I, uma gravura onde se pode ver um jovem saloio de barrete na cabeça, no corredor daquela gruta e refere a existência mais moimentos idênticos nas redondezas.
Alapraia torna-se a partir dos meados dos anos 30 do século XX num dos locais mais referenciado pelos arqueólogos que estudam o período do Calcolítico, na sua fase final, onde se integra a cultura do vaso campaniforme.
A gruta I de Alapraia ou o sepulcro I escavado nos calcários brandos do terciário que durante anos tinha sido a única referência do local, deixou de ser o único exemplar daquele tipo de monumentos na localidade com a descoberta de outras três.
Embora a tradição popular afirmasse que existiam mais e continue a dizer o mesmo na actualidade, nada tinha sido confirmado antes da descoberta fortuita da gruta II durante os trabalhos de alargamento de uma das ruas da localidade.
Atentos não só Afonso do Paço e o padre Jalhay que a escavaram mas também uma população autóctone que soube divulgar, na época, o achado de modo a que a notícia chegasse aos ouvidos da administração local que se interessou pelo caso e informou os interessados. Esta conquista momentânea do património obrigou a que a estrada se mantivesse estreita até aos dias de hoje.
A ARQUEOLOGIA COMO EMPECILHO
As grutas que levaram longe o nome de Alapraia tornaram-se, para alguns habitantes, um quisto na povoação, um empecilho, um vazadouro de lixo na acepção da palavra. Mais tarde, segundo alguns moradores mais idosos, na Quinta das Grutas, em Alapraia, foram descobertas ruínas romanas as consequências foram a sua destruição, a mando do proprietário, para evitar que não lhe deixassem construir no local.
Outra das histórias que se contam na tradição arqueológica é o arrasar de outra gruta artificial, em S. Pedro do Estoril, muito perto onde estão os sinais luminosos quando se estavam a fazer as terraplanagens para a construção da estrada Marginal. Não sabemos ao certo se só foi Veiga Ferreira que nos contou o sucedido ou se também foi D. António Castelo Branco. Recordo-me de duas versões ligeiramente diferentes; a primeira que o empreiteiro da obra quando soube do achado mandou logo tapá-la, pelo que terá sido admoestado pelo Eng. Duarte Pacheco, a outra que terá sido Duarte Pacheco a mandá-la destruir para não atrasar os trabalhos.
Duas maneiras diferentes de encarar o património arqueológico: uma como sendo de todos, outra apenas de interesse particular.
Para finalizar podemos dizer que o empreiteiro da Marginal, com quem se passou o caso, terá falecido antes da estrada ter chegado a Cascais e que Duarte Pacheco morreu pouco tempo depois da sua conclusão.
– Guilherme Cardoso (https://www.facebook.com/guilherme.cardoso1?epa=SEARCH_BOX)
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