Posted By on Nov 11, 2021

Textos por Oeiras
– Há 150 anos, a greve dos tecelões da Fábrica de Lanifícios de São Pedro do Areeiro, em Oeiras, abalou o país

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Textos por Oeiras
– Há 150 anos, a greve dos tecelões da Fábrica de Lanifícios de São Pedro do Areeiro, em Oeiras, abalou o país

Autora: Ana Gaspar

Tradicionalmente o surto do movimento grevista em Portugal é apontado no ano de 1872. Porém, um ano antes, em 1871, despoletou em Oeiras uma greve assim descrita por Eça de Queiroz, em Uma Campanha Alegre: «Este mês a opinião preocupou-se com o que se chamou a greve de Oeiras. Parecia realmente indecoroso que Lisboa, já civilizada, com teatro lírico e outros regalos de capital eminente, não tivesse esse chique social – a greve! Oeiras, com uma dedicação amável forneceu-lhe esta elegância. Oeiras deu a greve. Os nossos estadistas puderam ter ocasião de comentar a nossa última greve, e de falar no terrível proletariado”.

Há 150 anos, em novembro de 1871, 53 tecelões da Fábrica de Lanifícios do Areeiro, em Oeiras, iniciam uma greve, protestando contra a diminuição do vencimento, por imposição do proprietário, para fazer face à concorrência estrangeira. O patrão, José Diogo da Silva, impõe um salário baseado na produção dos tecidos, mas as contas entre o patrão e os operários não são as mesmas, dado que todo o trabalho de preparação da teia, indispensável para a produção do tecido, não era contabilizado pelo patrão. Os tecelões calculam uma diminuição de 30% do salário, enquanto o patrão estima essa diminuição em apenas 10%.

Esta greve, que dura um mês e seis dias, vai ser notícia nos jornais da capital – sendo que uns, como o “Diário de Notícias”, colocam-se do lado dos operários e outros, como o “Jornal do Comércio” e o “Eco Americano”, chegam a insinuar que estes estão a ser manipulados por forças estrangeiras com motivação política. Provoca a solidariedade dos operários da região de Lisboa, que promovem iniciativas com vista à angariação de donativos para os seus companheiros de Oeiras, mas, sobretudo, a greve vai provocar a falência da direção do Centro Promotor dos Melhoramentos das Classes Laboriosas, que será substituída por outra de cariz mais virado para o apoio aos trabalhadores, contribuindo seguramente para o desfecho positivo do movimento grevista do ano seguinte em todo o país.

Localmente, a greve impulsiona a consciência de classe com a criação em Oeiras de associações de carácter mutualista, artístico e de resistência, como a Sociedade Cooperativa 19 de Dezembro (data do termo da greve), a Associação de Socorros Mútuos de Oeiras e a Associação Socialista 18 de Março (data da Comuna de Paris).

Assim, Oeiras foi pioneira e esteve, no final do século XIX, bem à frente na defesa dos interesses dos trabalhadores.

1 Comment

  1. Este comentário sobre a greve dos operários da fábrica de lanifícios de Oeiras, em 1871, é bastante interessante e oportuno, não só por informar sobre uma greve com cariz moderno, mas também por enunciar os apoios que apareceram para que os operários pudessem subsistir.
    De facto, os últimos trinta anos do séc. XIX em Portugal estão já recheados de acontecimentos relativos à criação dos partidos Republicano e Socialista, por isso,
    não estávamos tão isolados da Europa como disse Eça de Queirós, tínhamos cá dentro gente com ideias modernas.

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