Posted By on Dez 15, 2024

Jorge Manuel de Araújo de Oliveira Miranda

EMACO


Jorge Manuel de Araújo de Oliveira Miranda

– n. 20 de Junho de 1936 – f. 15 de Dezembro de 2024

É com muita mágoa e tristeza que damos notícia do falecimento de Jorge Miranda, nosso associado número um e fundador da Espaço e Memória – Associação Cultural de Oeiras, que tanto lhe fica devedora pela sua capacidade de iniciativa, dinamismo e sabedoria.

Foi e é uma honra reiterada termos sabido contar com o seu companheirismo e a sua tão solidária partilha de saberes, de onde se destaca, entre tantas das suas actividades em prol da defesa do património, o seu desvelo entranhado pelo concelho de Oeiras.

Neste momento de profundo pesar, aos familiares e amigos queremos dar testemunho das nossas mais sentidas condolências.

Com a devida referência, aqui publicamos uma nota de Guilherme Cardoso, complementar do que fica dito:

UM CASCALENSE QUE NOS DEIXA MAIS POBRES

Jorge Miranda deixou-nos ontem (15/12/2024).

Nascido no casco velho da vila de Cascais há 88 anos, homem de trato fácil, de uma educação primorosa, lega-nos uma vasta obra histórica sobre Cascais e Oeiras.

Amigo de longa data detinha um vasto conhecimento sobre muita da história antiga e contemporânea de Portugal, o que lhe dava uma conversação sobre uma vastidão de assuntos, que foi profusamente usada quando foi professor, na Escola Profissional de Teatro de Cascais e da Escola Superior de Hoteleira e Turismo do Estoril.

Durante anos conjuntamente com Carlos Teixeira procurámos dar a conhecer um pouco da história e imagens da zona periférica do município de Cascais, daquela território de que pouco se fala ou regista. Três livros saíram. As freguesias de Carcavelos, de São Domingos de Rana e de Alcabideche, num total de 962 páginas.

Como homem de cultura que era foi fundador da Associação Cultural de Cascais e da Espaço e Memória – Associação Cultural de Oeiras, onde foi durante muitos anos Presidente da Assembleia.

As nossas mais profundas condolências à família neste momento de dor.

Também de José D’Encarnação:

Companheiro de muitas lutas pelo reconhecimento do valor da história e do património locais, membro fundador também da Associação Cultural de Cascais, profundo conhecedor da história de Oeiras e de Cascais, conhecimentos que largamente partilhou em livros, no Jornal da Região (Oeiras) e nas colunas do Jornal da Costa do Sol,  por exemplo, cidadão empenhado, amigo do peito.

                Elevo uma prece pelo seu eteno descanso. E à família enlutada se apresentam os mais sentidos pêsames.

                                                               José d’Encarnação

José d’Encarnação, conforme publicado em Duas Linhas (https://duaslinhas.pt/):

JORGE MANUEL DE ARAÚJO OLIVEIRA MIRANDA

(1936 –15.12.2024)

Por José d’Encarnação – 17 de Dezembro, 2024

Evocação

Escreva-se o nome completo, para resistir à preguiça e, também, para não haver confusão de identidades, pois o Jorge, além de, por vezes, assinar Manuel de Araújo no Jornal da Costa do Sol – nomeadamente quando o tema era mais candente e a crítica um tudo-nada mais aguda –, habitualmente preferia o 1º e o último: Jorge Miranda, o que o levou, de quando em vez, a ser confundido com o constitucionalista Jorge Miranda. O mundo do ‘nosso’ Jorge – cascalense dos quatro costados e de nascença, oeirense por adopção – não era o das leis, mas sim o do património e da história locais, por cuja memória e identidade sempre pugnou.

Perdoar-se-me-á se, quando deveria assumir um tom de mui grande seriedade, ao evocar o Amigo que partiu, eu tenha começado por falar de preguiça. Justifico-me: primeiro, porque o Jorge não era nada dado a tristezas e procurava viver intensamente o momento presente, não se privando de saborear um bom charuto e de se deixar ficar largos minutos para uma amena cavaqueira. Adorava conversar. Escrevia muito bem, tinha uma pena ágil, mas as suas palestras – e muitas fez, sobretudo no âmbito das actividades da Associação Cultural de Oeiras e também da Associação Cultural de Cascais – eram um encanto, porque facilmente ia contando histórias atrás de histórias, sem se importar com os minutos que iam passando e nó, os ouvintes, até nem nos ralavam muito com isso!

A segunda justificação: é que foi quase a ferros que consegui, em meados de 1999, que aceitasse o desafio que Albérico Fernandes e eu próprio lhe fizemos para garantir semanalmente na edição de Oeiras do Jornal da Região a rubrica Cantinhos da Região, onde deu a conhecer muitos dos monumentos e das efemérides oeirenses. Insisti para que, também ele, depois os publicasse em livro, mas apenas se conseguiu que publicasse uma parte, o n º 1 da História do Concelho de Oeiras, Pombal e Oeiras (Espaço e Memória, Oeiras, 2017). É que, além da preguiça a que tinha direito, era um perfeccionista e gostava de ir até ao fundo das questões; por isso, ia adiando, adiando. E o meu voto vai ser que a Espaço e Memória possa, um dia, agarrar no que ficou inédito e com a sua publicação nos presenteie, ajuntando porventura mesmo o que publicou e anda disperso, como se verá no rol que junto em anexo.

Lê-se no jornal O Correio da Linha (24-08-2012, p. 4):

«Jorge Miranda é o melhor conhecedor da história de Oeiras, a cuja investigação se tem dedicado afincadamente. Aguarda publicação, por exemplo, a colectânea dos inovadores apontamentos históricos com que, de 1999 a 2005, semanalmente brindou os leitores de Jornal da Região – Oeiras».

Importa esclarecer o seguinte: Jorge Miranda exerceu actividade profissional como – se não erro – técnico de uma empresa turística. Apaixonado pela História, foi depois de se ter aposentado, que fez o curso de História na Faculdade de Letras de Lisboa e se começou a dedicar com mais afinco à escrita que, antes disso, se limitava a uma colaboração permanente, como redactor, em Oeiras, do Jornal da Costa do Sol.

Os textos aí publicados, devidamente aglutinados e adaptados, serviram de base, por exemplo, a três volumes que preparou em colaboração com Guilherme Cardoso e Carlos A. Teixeira, e que são hoje de referência obrigatória quando se pretende saber algo sobre S. Domingos de Rana, Carcavelos e Alcabideche. Refiro-me a:

  • CARDOSO (Guilherme), MIRANDA (Jorge) e TEIXEIRA (Carlos), Registo Fotográfico de Carcavelos e Alguns Apontamentos Histórico-Administrativos. Câmara Municipal de Cascais, Cascais, 1988. Houve 2ª edição.
  • CARDOSO (Guilherme), MIRANDA (Jorge) e TEIXEIRA (Carlos), Registo Fotográfico de S. Domingos de Rana e Alguns Apontamentos Histórico-Administrativos. Junta de Freguesia de S. Domingos de Rana, 2003.
  • CARDOSO (Guilherme), MIRANDA (Jorge) e TEIXEIRA (Carlos A.), Registo Fotográfico de Alcabideche e Alguns Apontamentos Histórico-Administrativos, Junta de Freguesia de Alcabideche, 2009.

Mas a sua obra é bem mais extensa e do rápido apanhado que ora me foi dado fazer resultou o seguinte:

«Aspectos da situação do escravo em Oeiras, na segunda metade do século XVIII», Boletim Cultural da Assembleia Distrital de Lisboa, III série, nº 91, 1989, p. 11-12.

«Em torno do poder local no Reguengo de a par de Oeiras, no século XVII», Boletim Cultural da Assembleia Distrital de Lisboa, Série III, nº 91, 2º tomo, 1989.

«A extinção do concelho de Oeiras (1895-1898) : um caso político-partidário»,

Boletim Cultural da Assembleia Distrital de Lisboa, Série IV, n.º 92, 1990/98, p. 83-92.

ARAÚJO (Manuel de), «Joane Anes – Homem-bom de Oeiras», Jornal da Costa do Sol nº 1192, 7-3-1991.

A obra do pintor Silva Oeirense (1797-1869), abertura do catálogo da exposição realizada em Outubro de 1992.

«A autonomia de Oeiras e a formação do espaço geográfico concelhio», Actas do I Encontro de História Local do Concelho de Oeiras, Câmara Municipal de Oeiras, Lisboa, 1993, p. 145-154.

ARAÚJO (Manuel de), «Os reguengos de Oeiras», Jornal da Costa do Sol nº 1355, 21 de Abril de 1994, p. 17.

ARAÚJO (Manuel de), «A capela do Senhor Jesus dos Navegantes, em Paço de Arcos», Jornal da Costa do Sol nº 1365, 30 de Junho de 1994, p. 10.

Para uma História dos Lazeres no Concelho de Oeiras, catálogo da exposição. Câmara Municipal de Oeiras, 1995. Coordenação e pesquisa de Manuela Hasse e Jorge Miranda.

«Para a História da Imprensa de Oeiras – Paulo da Fonseca, editor de A Gazeta d’Oeiras», desdobrável, Abril de 1997.

Viagem pelas Lendas do Concelho de Oeiras, Câmara Municipal de Oeiras. Oeiras, 1998.

«Oeiras e a expansão – Contributos para a sua história», in 1º Ciclio de Estudos Oeirenses – Oeiras – A Terra e os Homens. Câmara Municipal de Oeiras, Novembro de 1998, p. 197-224.

«Caspolima e Porto Salvo», Jornal da Região – Oeiras nº 167, 29-6-2000.

«Os morgadios do Rabi-Mor», Jornal da Região – Oeiras nº 168, 6-7-2000.

«Porto Salvo: a capela, a irmandade e vontade do povo», Boletim Cultural da Assembleia Distrital de Lisboa, IV série, nº 95 (2º tomo), 2009, p. 79-88.

«Pescadores aliados da Inglaterra nas Invasões Francesas», O Correio da Linha, 24 de Agosto de 2012, p. 4-5.

«O Pelourinho – um símbolo da autonomia oeirense», revista Espaço & Memória 1, Maio 2017, p. 34-37.

Estou certo de que, para honrar a sua memória, os municípios de Cascais e de Oeiras, que, por exemplo, no domínio da Música, detêm um protocolo mui proveitoso, os seus responsáveis pela Cultura (quiçá também a Fundação D. Luís I, de cujo Conselho de Fundadores foi um dos primeiros membros) ora se sentem à mesa para lançar mãos a essa mui louvável tarefa. Jorge Miranda bem no merece!

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