Posted By on Ago 13, 2021

Textos por Oeiras
– Os banhos de mar no concelho de Oeiras como cura da infertilidade

EMACO


Textos por Oeiras
– Os banhos de mar no concelho de Oeiras como cura da infertilidade

Autora: Ana Gaspar

No final do século XVIII, os médicos começam a recomendar os banhos de mar como cura de algumas maleitas, como o raquitismo infantil, a palidez juvenil, mas também a infertilidade feminina e a impotência dos homens – não fossem os vigorosos marinheiros um exemplo de larga procriação.

Tendo o concelho de Oeiras uma larga costa marítima, e ficando situado tão próximo da capital, não é de estranhar a sua utilização para esses fins.

Assim, os primeiros banhos de mar tomados no concelho de Oeiras que conhecemos tiveram o propósito de garantir a descendência aos segundos condes de Oeiras. Casados desde 1764, altura em que D. José agraciara o jovem casal com o mesmo título que ao pai pertencia, Henrique José e D. Antónia não tinham filhos, representando uma tremenda preocupação familiar.

A 14 de Junho de 1778, o velho marquês, Sebastião José, de Pombal onde se encontrava exilado, responde a uma carta do filho primogénito, congratulando-se por dois motivos: “Um o de ser escrita em Oeiras; outro o de ter essa tua assistência por causa o remédio dos banhos aplicados a Minha querida Filha a Senhora Condeça. Remédio em que Eu tenho uma grande esperança de que a Nossa Casa tenha a felicidade de ser continuada pela dita Senhora.” (Biblioteca Nacional, Colecção Pombalina, PBA 714, fl. 116V). Os condes de Oeiras encontravam-se então residindo em Oeiras e, enquanto D. Antónia tomava banhos de mar, o seu marido aproveitava os banhos do Estoril, mais propícios para os males de que padecia, e também muito apreciados na época. As cartas do pai sucedem-se referindo sempre a grande esperança na obtenção de descendência.

Semelhante problema afetava a família real. O príncipe herdeiro, D. José e a mulher, D. Maria Benedita, casados em 1777, não conseguiam garantir a sucessão. Assim, nove anos depois do casamento, o seu irmão, o príncipe D. João – futuro rei D. João VI – escreve, a 15 de Junho de 1786, à irmã Mariana Vitória que se encontrava em Espanha por via do seu casamento com um príncipe espanhol: “Hoje vai meu mano pelo primeiro dia tomar banhos de mar, os quais vai tomar para diante de Caxias e depois vai jantar a Caxias e são as novidades que por cá há.” (Alice Lázaro, Se saudades matassem… – Cartas íntimas do infante D. João (VI) para a irmã (1785-1787), p. 334).

Um mês depois, a 18 de Julho, o príncipe reforça o que escrevera antes: “Domingo fomos à festa de Nossa Senhora do Carmo, a Caxias e nosso mano lá tomou o seu banho de mar, com os quais tem passado muito [bem].” (Idem, p. 348). No ano seguinte, D. João volta a abordar o mesmo assunto nas cartas que escreve à irmã.

Porém, os banhos de mar exigiam determinadas cautelas: a condessa de Oeiras tinha de sujeitar-se às dolorosas sangrias antes dos banhos (“que as sangrias da minha mana, não tenham outra causa mais que a prevenção para os banhos”, escreve a cunhada Teresa, de Vila Flor (BNP, Colecção Pombalina, PBA 712, fl. 259). E o já referido príncipe do Brasil devia coibir-se de relações sexuais com a princesa: “Acabada a ceia foi para o Quarto da Princesa sua mulher (…) Dizem dera sanhas de se ajuntar com a dita Princesa o que lhe estava proibido pelo referido Principe andar tomando banhos do mar.” (ANTT, Manuscritos da Livraria, n.º 1124, fl. 93V)

Contudo, nem os condes de Oeiras nem os príncipes do Brasil tiveram descendência. Afinal, os banhos de mar podiam servir para curar inúmeras doenças, mas a infertilidade não seria seguramente uma delas.

1 Comment

  1. Para quem não tem cultura ligada aos ao historial de Oeiras , este trecho com caraterísticas históricas propõe um conhecimento algo insólito sobre os costumes da época e deste espaço.

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