Texto de autor


Porque é Abril e, nele, o dia 25, aqui vos deixo uma imagem alegórica que o meu filho Alexandre criou a partir de fotografias minhas obtidas nesse dia, em 1974.

Imagem a imagem, é por Abril que vamos.

Foi pela força das armas, não o esqueçamos, que Abril de 1974 aconteceu.

Mas pela força das armas que, a começar pelo Movimento dos Capitães, culminando na incondicional adesão popular, soubemos todos temperá-la com a candura de um cravo.

E, assim, esse momento inspirador e único deu novos mundos ao mundo.

Do meu livro «Abril – Um Modo de Ser», o poema «Abril, sempre!»:

ABRIL, SEMPRE!

na dolência de nos quedarmos tão sós
na cadência sincopada de agonias
contra quanto de tão vil afoga a voz
na premência da urgência de outros dias
não te esqueças desse grito com que alarmas
o presente e o futuro que querias
pois o Abril das quimeras
e utopias
esse Abril rima bem com povo em armas.

Para quem traz Abril no peito, podem ouvir o meu poema de 2021 aqui:

https://www.facebook.com/1271511073/videos/10224546206743937

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Lisboa, 25 de Abril de 1974

Do meu livro Abril – Um Modo de Ser, um excerto do poema Não era nada, quase nada, e era Abril:

(…) e houve um santo e uma senha na alvorada
a erguerem-se numa só feitas à estrada
as vontades de ser livre e ser inteiro
a rasgarem entre o denso nevoeiro
o alvor
a alegria
a liberdade
e mostraram ao país outra verdade

Lisboa, 25 de Abril de 1974

Do meu livro Abril – Um Modo de Ser, excertos do poema Era um tempo feito de verde infinito:

era um tempo feito de verde-infinito
era um tempo de água parda e neblinas
era um tempo de silêncios sem notícias
que ondulava sem carícias contra o cais

era um tempo sem flores ou voo de aves
era um tempo inventado sem jamais
era um tempo sem o azul das maresias
e amarras que prendiam desiguais
(…)
mas no âmago mais fundo que nos resta
nesse dia que que nasceu como os demais
o verde e o azul do mar estão em festa
e amarras nunca mais – oh nunca mais!…

Lisboa, 25 de Abril de 1974

Do meu livro Abril – Um Modo de Ser, excertos do poema A Cor de Abril:
(…)
uma vontade a crescer
no peito que se deslassa
crescendo em nós sem se ver
mas vermos que nos abraça

pressentindo em modo vário
que ao sermos um povo unido
nos fica o medo vencido
e nós um mar solidário.

NOTA – O livro, de minha autoria, Abril – Um Modo de Ser contou com o apoio da Associação 25 de Abril e da Espaço e Memória – Associação Cultural de Oeiras

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Lisboa, 25 de Abril de 1974

Do meu livro Abril – Um Modo de Ser, publicado em 2015, respigo do poema com o mesmo nome:

ABRIL – UM MODO DE SER

Liberdade – a condição primeira que determina o ser vivente, não de cada um por si, mas na arte maior da sua interacção com os demais.

(…) certo dia – era Abril – e acontecia
renascer um novo alento na cidade
nesse dia algo acordou e sem idade
por ser força maior que em nós resida
liberdade – liberdade – liberdade
condição de ser humano e de ser Vida.

Do meu livro, Abril – um Modo de Ser – um excerto do poema Metáforas de Abril:

(…) é a urgência que na corrente se lança
é caravela que navega na tormenta
é cruzar mares só de vida e de ar puro
é riso alegre e feliz de uma criança
é vontade de uma vida marinheira
é buscar mar de azeite na traineira
lançando redes inundadas de futuro.

Do meu livro Abril um Modo de Ser, um excerto do poema Cantiga de Avô:

(…) ensina-me a navegar
mostra-me os rios e as fontes que vêm dos altos montes
e fazem estradas no mar
avô
mal aprendi eu a andar
mas que procuro os caminhos que meus passos vão criar
ergue a mão encordoada
faz-te a vela
a alvorada
faz do teu braço o alvoroço
sê tu a minha amurada
da rota que hei-de singrar
avô
vem comigo navegar!

NOTA – O livro Abril – Um Modo de Ser contou com o apoio da Associação 25 de Abril e da Espaço e Memória – Associação Cultural de Oeiras

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Motivo de cobiças urbanísticas, apeteceu-me passear, hoje, por este espaço, para matar saudades e recolher imagens do que estará para desaparecer.

Para quem esteja interessado, poderá ver esta minha reportagem em

https://sete-mares.org/…/carcavelos-quinta-nova-de…/

(Nota – não publico aqui as imagens para não abusar da vossa paciência. Assim, quem quiser vai…)

  • Jorge Castro, em 17 de Abril de 2021

 

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– a propósito das artes plásticas em Cascais (27/01/2021)

Do nosso associado José d’Encarnação e com a sua permissão e os nossos agradecimentos, divulgamos o presente artigo, inicialmente publicado em https://duaslinhas.pt/2021/01/aquele-toque-de-genio/ e que reputamos do maior interesse.

As recentes partidas de Cutileiro e a de Cruzeiro Seixas sugeriram-me que não seria, quiçá, despropositado lançar despreocupado olhar sobre o que tem sido, nas últimas décadas, o papel das artes plásticas em Cascais.

De Cutileiro temos aquele Camões de braços cruzados, que observa hoje, como quem não quer a coisa, os comensais do Conversas na Gandarinha, ou seja, no que foi, certamente, o claustro interior do Convento de Nossa Senhora da Piedade dos Carmelitas Descalços e é hoje o Centro Cultural de Cascais. Antes, porém, a escultura esteve no átrio dos Paços do Concelho, um Camões de olhar matreiro, como quem diz «o que é que tu vens aqui fazer? Que queres tu destes autarcas e dos funcionários do palácio?». Era cínico, convenhamos, aquele ar de braços cruzados, ainda por cima com apenas um olho, como que a troçar do pagode. Ali não podia ficar e mandaram-no para o convento, o que o épico não levou nada a mal, mais sossegado está, no alto dos seus três metros e, entre um petisco e outro, lá haverá quem lhe aprecie o gesto magano.

De João Cutileiro há outra escultura em Cascais, junto à Capitania e a lota, na Rua das Flores. Um hino à actividade piscatória do burgo, na figura de um pescador de braços no ar, mostrando na mão direita um peixe, qual trofeu, na alegria de ter visto coroado o seu labor, jubiloso motivo que o escultor repetirá na Póvoa de Varzim e em Alvor. Usou para o moldar o azulino cascalense – e fez muito bem.

A terceira escultura, de 1983 como as outras duas, espreita junto à porta do antigo castelo da vila e chama-se Guerreiro. Sem luta não se obtém autonomia, sem guerra não se alcança a paz, sem domar ventos e aproveitar marés se não pesca… E Camões lá esteve para contar a epopeia dos descobrimentos, porque foi em Cascais que, de regresso da descoberta do caminho marítimo para a Índia, desembarcou Nicolau Coelho, que correu a dar a nova a D. Manuel, que estava em Sintra.

Cutileiro, pois, o ilustrador-mor de momentos altos da história da nossa vila.

Cruzeiro Seixas esteve como responsável pela galeria da Junta de Turismo, numa altura em que os senhores que mandavam no turismo local estavam cá, conheciam bem o ambiente e tudo faziam para que a Costa do Sol (assim se chamava) brilhasse aqui e lá fora, e privilegiavam as actividades culturais (as artes, o teatro, as iniciativas musicais…). Cruzeiro Seixas foi um dos derradeiros responsáveis pela galeria das Arcadas, quando ali praticamente todas as quinzenas se inauguravam exposições, com pompa e circunstância, vernissages que eram sempre agradável ponto de encontro de artistas e apreciadores de Arte cá do burgo. Imprimiu ele à galeria um ar bem avant la lettre, mormente quando se propôs a fazer uma exposição erótica. Não fez. Que de imediato a proposta chegou a ouvidos moralistas e – aqui d’el-rei! – está o mundo virado do avesso. Cruzeiro Seixas aguentou mais uns tempos e zarpou para outras paragens, não sem ele próprio ter ali exposto juntamente com outros companheiros do Surrealismo português.

Os anos 60
Ao repensar o que foram, nos anos 60, as Artes Plásticas em Cascais, a primeira imagem que surge é, precisamente, a da Junta de Turismo da Costa do Sol.

A Junta reunia representantes das forças vivas do concelho no domínio da promoção turística e Joaquim Miguel de Serra e Moura e a sua equipa cedo perceberam quanto a Arte propiciaria a vinda de turistas.

Pode parecer estranho ainda hoje, uma vez que raro seria o turista a comprar quadros e, sobretudo, a levá-los para o estrangeiro. É que não se trata de negócio, de aumento de divisas: trata-se de imagem! Hoje, há especialistas de imagem; Serra e Moura percebeu-o, quiçá intuitivamente. Mostrar a obra dos nossos artistas e, até, a dos que nos visitavam ou a dos membros da colónia estrangeira aqui radicada era uma forma de dar a conhecer a nossa gente, os nossos costumes, a nossa Arte!

Teve a Junta uma programação regular. De quinze em quinze dias quase, como se disse, uma exposição nova, individual ou colectiva, com o respectivo catálogo, obedecendo também ele à mesma imagem. Anualmente, para o Salão da Costa do Sol os artistas eram convidados a inspirarem-se em recantos típicos da região e a Junta adquiria os premiados. Um espólio que terá levado sumiço após a Revolução de Abril.

Também Teodoro dos Santos, presidente da Estoril-Sol, navegou nas mesmas águas. A galeria do Casino teve como principal impulsionador o professor Calvet de Magalhães, que, por ser director da Escola Francisco Arruda, tinha a noção clara do papel educativo da Arte, a todos os níveis. Outros se lhe seguiram até Nuno Lima de Carvalho, a quem devemos não apenas o ter agarrado os salões da Primavera e do Outono que a Junta deixara de fazer, como, de modo especial, os salões de Arte Infantil e de Pintura Naïf (sic), ambos abertos à comunidade nacional e estrangeira.

Propunha-se, com o primeiro, incentivar para a Arte os mais pequenos, pois ninguém podia garantir que, entre esses, não estariam já os génios de amanhã. Um Museu de Arte Infantil seria, em Cascais, iniciativa invulgar e do maior alcance. Não teve apoio das entidades locais.

Quanto aos pintores naïf, cuja tradição vinha dos «Pintores de Domingo» de Belém, foi Lima de Carvalho o maior impulsionador deste tipo de manifestação artística a nível nacional, reconhecido internacionalmente. A sua proposta de erguer em Cascais um Museu de Arte Naïf também não colheu apoio e um museu com essas características acabou por ser concretizado, com o maior êxito, em Guimarães, sob a designação de Museu de Arte Primitiva Moderna.

Nos anos 60 – como pela Europa fora – a Arte estava no seu auge e tanto na Junta como no Casino faziam questão em expor os maiores artistas nacionais, de tal forma que pode afirmar-se, sem medo de errar, que não houve artista de renome que não tivesse exposto numa ou noutra destas galerias. E mais: nenhum que não considere, hoje, ter sido o apoio então recebido que muito o ajudou a guindar-se até onde está!

No quadro dos artistas ‘locais’, Mário Silva, Michael Barrett, Victor Belém, Jorge Marcel, Correia de Morais, Guilherme Parente… são alguns dos nomes a não esquecer!

O toque de génio

Se Cutileiro e Cruzeiro Seixas foram génios, ao escultor Óskar Guimarães coube a honra de iniciar – num toque génio! – o movimento que, na actualidade, todas as juntas de freguesia prosseguem: como presidente da Junta de Freguesia de Cascais criou, nas novas instalações, a Galeria JF, por onde também começou a correr o rio da imaginação criativa dos nossos artistas.

Cascais assistiu, aliás, nesses anos 80, a uma incomparável explosão artística. E justo é que se homenageie Teresa Black, que faleceu, aos 90 anos, a 6 de Agosto do ano passado e que terá, seguramente, contribuído para que a sua grande amiga Paula Rego pensasse no legado de parte da sua obra a Cascais, pois foram colegas de curso na Slade School of Fine Artes, em Londres.

Teresa Black no seu ateliê, na Malveira da Serra (1974)

Foi em 1983 que nasceu a «Viragem», Associação dos Artistas Plásticos de Cascais, cuja 1ª exposição se realizou, em 1984, na Galeria da Cidadela. Teresa Black, que se fixou na Malveira da Serra, foi secretária da direcção da Viragem até 1988 e, em 1989, fundou, com os artistas Ló, Garizo do Carmo e Ormond Fannon, o Grupo Pitágoras, que logrou atingir plenamente os seus objectivos: expor em conjunto em vários pontos do País, convidando artistas locais para se juntarem a eles.

Fundadores do Grupo Pitágoras: Garizo do Carmo, Ormond Fannon, Ló e Teresa Black (da esq. para a dir.)
Depois, abriram e fecharam alguns espaços que se propunham ser galerias de exposição. Dentre eles merece referência a iniciativa da Sociedade Musical de Cascais, que destinou para galeria um dos seus átrios e que, ainda que de existência fugaz – pelos anos 1998 e 1999 –, acabou por albergar um significativo conjunto de exposições não apenas individuais (recordamos a de Mário Silva, a de Cristina Leiria…) mas também institucionais (dos bombeiros, da Capitania do Porto, da Associação Cultural de Cascais sobre a ocupação romana…).

No Jornal da Costa do Sol, Adelaide Félix garantiu durante anos uma rubrica sobre exposições de arte e as iniciativas de artistas tiveram sempre lugar de destaque nas colunas deste semanário. Enfim, ontem como hoje, Cascais não tem deixado os seus créditos por mãos alheias no que às Artes Plásticas diz respeito. E ainda bem!

Alice e o pote de barro (1995) – Teresa Black

José d’Encarnação – 27 de Janeiro de 2021

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