Texto de autor


Artigo e imagens amavelmente cedidos pelo nosso associado Fernando Lopes

Na primeira foto observamos a fachada da Igreja (reconstrução pós terramoto de 1755) como que a espreitar a Quinta Real. Na segunda observamos, após limpeza camarária um “encanamento” de água, muito provavelmente proveniente da represa que os monges possuíam perto do Lugar de Laveiras e que continua ao longo da várzea sendo visível da Ponte da Cartuxa. Não obstante a regra ascética, a realeza filipina e de bragança era recebida no Mosteiro amiudadamente. Mesmo a entrada de damas era excepcionalmente permitida, o que implicava depois uma confissão do prior seguida de penitência. Afinal o Mosteiro precisava de doações, sempre insuficientes para manter o complexo monacal.

                                                                                                                               Fotografia 1
                                                                                                                                  Fotografia 2
                                                                                                                                                  Fotografia 3

A terceira imagem refere-se à Planta do encanamento da Quinta Real (disponível). Neste excerto pode-se observar-se o sentido do encanamento (a tracejado) que provém da represa assinala no mapa. Tive ocasião de notificar a CMO, de que foi tomada nota, da existência lajes, prováveis de vestígios da represa, perto da actual ponte de Laveiras. Esperemos que a recuperação da Cartuxa e da Quinta Real (nomeadamente no actual processo de limpeza) seja acompanhada por pessoal competente, nomeadamente arqueólogos, visto que o grande movimento de máquinas que se vem observando assim deve obrigar.

Fernando Lopes – 24 de Outubro de 2020

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Texto e imagens da autoria de Guilherme Cardoso

A origem da palavra Arqueologia é grega e provém da aglutinação de duas palavras “archaíos”, antigo, mais “logos”, tratado. É no fundo a ciência que estuda o antigo.
Embora tenha como finalidade recriar História, difere no estudo daquela ciência que se baseia normalmente em documentos escritos, fotografias e descrições orais, para a sua análise. Para a Arqueologia qualquer vestígio material antigo é um documento de análise, servindo para interpretar os acontecimentos do passado de que não se possui descrições, possibilitando, assim, recriar a história das sociedades passadas.
Através da História pode-se fazer a biografia de uma pessoa ou a análise de uma sociedade. Em Arqueologia só se pode falar em sociedades e culturas do passado sem nunca particularizar o indivíduo, mesmo quando estamos a falar dos restos humanos encontrados numa sepultura de quem se sabe o nome, a idade e o “status”. Para o arqueólogo, a análise de uma tumba faz-se através do contexto material sepulcral, habitualmente integrável numa determinada sociedade, com costumes e cultura própria sem se poder individualizar inteiramente o defunto, pois, os objectos que são encontrados junto aos seus restos fazem parte, normalmente, da sua época e ali foram colocados por outros homens que lhe fizeram o moimento, bem como o epitáfio que o identifica.

OS PRIMÓRDIOS ARQUEOLOGIA EM CASCAIS
A arqueologia aparece em Cascais, como ciência, no século XIX, através de dois investigadores, Carlos Ribeiro e Francisco de Paula e Oliveira. O primeiro ligado à pré-história e o segundo à antropologia e aos períodos Romano e Medieval.
É no entanto Paula e Oliveira que refere pela primeira vez a existência da gruta I de Alapraia, «Antiquités Préhistoriques ét Romaines des Environs de Cascaes», Communicações da Comissão dos Trabalhos Geológicos, II, Fasc. I, Lisboa, 1888/92, p. 85-92.
Em 1897, José Leite de Vasconcelos, publica na sua obra, As Religiões da Lusitânia, volume I, uma gravura onde se pode ver um jovem saloio de barrete na cabeça, no corredor daquela gruta e refere a existência mais moimentos idênticos nas redondezas.
Alapraia torna-se a partir dos meados dos anos 30 do século XX num dos locais mais referenciado pelos arqueólogos que estudam o período do Calcolítico, na sua fase final, onde se integra a cultura do vaso campaniforme.
A gruta I de Alapraia ou o sepulcro I escavado nos calcários brandos do terciário que durante anos tinha sido a única referência do local, deixou de ser o único exemplar daquele tipo de monumentos na localidade com a descoberta de outras três.
Embora a tradição popular afirmasse que existiam mais e continue a dizer o mesmo na actualidade, nada tinha sido confirmado antes da descoberta fortuita da gruta II durante os trabalhos de alargamento de uma das ruas da localidade.
Atentos não só Afonso do Paço e o padre Jalhay que a escavaram mas também uma população autóctone que soube divulgar, na época, o achado de modo a que a notícia chegasse aos ouvidos da administração local que se interessou pelo caso e informou os interessados. Esta conquista momentânea do património obrigou a que a estrada se mantivesse estreita até aos dias de hoje.

A ARQUEOLOGIA COMO EMPECILHO
As grutas que levaram longe o nome de Alapraia tornaram-se, para alguns habitantes, um quisto na povoação, um empecilho, um vazadouro de lixo na acepção da palavra. Mais tarde, segundo alguns moradores mais idosos, na Quinta das Grutas, em Alapraia, foram descobertas ruínas romanas as consequências foram a sua destruição, a mando do proprietário, para evitar que não lhe deixassem construir no local.
Outra das histórias que se contam na tradição arqueológica é o arrasar de outra gruta artificial, em S. Pedro do Estoril, muito perto onde estão os sinais luminosos quando se estavam a fazer as terraplanagens para a construção da estrada Marginal. Não sabemos ao certo se só foi Veiga Ferreira que nos contou o sucedido ou se também foi D. António Castelo Branco. Recordo-me de duas versões ligeiramente diferentes; a primeira que o empreiteiro da obra quando soube do achado mandou logo tapá-la, pelo que terá sido admoestado pelo Eng. Duarte Pacheco, a outra que terá sido Duarte Pacheco a mandá-la destruir para não atrasar os trabalhos.
Duas maneiras diferentes de encarar o património arqueológico: uma como sendo de todos, outra apenas de interesse particular.
Para finalizar podemos dizer que o empreiteiro da Marginal, com quem se passou o caso, terá falecido antes da estrada ter chegado a Cascais e que Duarte Pacheco morreu pouco tempo depois da sua conclusão.

Guilherme Cardoso (https://www.facebook.com/guilherme.cardoso1?epa=SEARCH_BOX)

Gruta I – Alapraia
Gruta II – São Pedro do Estoril
Gruta II – São Pedro do Estoril
Gruta IV – Alapraia
Sandálias votivas – Alapraia
Vaso de tipo campaniforme – Alapraia

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Texto e imagens da autoria de Guilherme Cardoso

Foi no 1º de Maio de 1982 que, ao olharmos para uma parede onde estavam alinhadas diversas salgadeiras lavradas em pedra calcária que divisámos o sarcófago de arenito do Arneiro (Carcavelos). Serviam todas de bebedouro a um rebanho de cabras e ovelhas, existente na localidade.
Apresentava-se um pouco esbotenado nos bordos devido à relha do arado quando passava sobre ele durante lavra do terreno. O seu proprietário disse-nos que o encontrou no terreno a sul do Largo do Chafariz, actualmente a poente da Igreja de São José.
Era na verdade o segundo que encontrávamos em Cascais. Desta vez em dia feriado (era à época fotógrafo e aproveitando o dia de descanso fui tirar fotografias e fazer prospecção arqueológica para as freguesias de Carcavelos e de São Domingos de Rana). Fazíamos então o levantamento de todas as terras do concelho de Cascais, acompanhados nesse dia pelo amigo Carlos Teixeira, antigo redactor do Jornal da Costa do Sol.
Desse trabalho resultaram três livros, de coautoria com Jorge Miranda e Carlos A. Teixeira. O primeiro a ser publicado foi o “Registo Fotográfico de Carcavelos e Alguns Apontamentos Histórico-Administrativos, publicado pela C.M.C., de 1988. Mais tarde saiu o da Freguesia de São Domingos de Rana, 2003, publicado pela própria Junta de Freguesia de São Domingos de Rana e por último o de Alcabideche, em 2009, publicado pela Junta de Freguesia de Alcabideche.
Voltando aos sarcófagos. O primeiro que encontrámos foi durante um dia de Verão de 1975, quando estávamos a escavar a Necrópole de Talaíde, com João Luís Cardoso. Devido a um acto de irresponsabilidade por parte dos promotores da urbanização decidiram rebaixar com uma retro-escavadora uma área por escavar do sítio arqueológico. Tínhamos informado dias antes, em desabafo, que naquele ano não tínhamos tempo de concluir a escavação da necrópole por termos verificado que se estendia mais para nascente e que segundo a nossa perspectiva seria para escavar no ano seguinte (diga-se que a escavação da necrópole foi toda realizada durante as nossas férias e às nossas custas). É mais que evidente que um dia quando lá chegámos a máquina tinha arraso tudo.
Quando observámos o fundo da zona da necrópole destruída verificámos que o que tinha ficado dos diversos enterramentos ali existentes era unicamente o fundo de um sarcófago de arenito que mais tarde deu entrada no Museu do Conde de Castro Guimarães.
Ora o que distingue o sarcófago da sepultura rupestre?
É simples, a sepultura rupestre está no sítio do afloramento rochoso onde foi aberta a cavidade, enquanto o sarcófago é esculpido num bloco o que possibilita que seja móvel podendo ser assente onde se pretende.
A datação destas peças é difícil, ambas não tinham no seu interior artefactos que as pudessem datar. No entanto, no caso de Talaíde, deve ser do mesmo período da necrópole ou seja de entre os séculos III e o IX d.C.
No caso do sarcófago do Arneiro, embora não se tenha localizado nenhuma necrópole da Antiguidade Tardia, foi escavada a cerca de 150 metros do local onde estava o sarcófago, um cemitério de época Islâmica, posterior ao século VIII. Será que ali perto teria existido um cemitério cristão entre os séculos V e o IX?
Sabermos da coexistência das duas comunidades religiosas na região saloia, era normal durante a administração Islâmica o que torna possível essa dedução.
Outra das curiosidades que existem em relação a este tipo de sepulturas é que a rocha de onde foram extraídos os blocos para lavrar os sarcófagos só existir a mais de 4 km, no caso do túmulo do Arneiro e a mais de 6 km, no caso de Talaíde. Ora quem mandou fazer uma peça daquele tamanho e transportá-la a uma considerável distância, teria que ser alguém de grandes posses. Encomendar um sarcófago para sepultar um defunto que muito amara não era para todos na época daí a raridade dos sarcófagos a que temos de juntar as questões das tradições e das convicções religiosas de quem encomendou o sarcófago.

Guilherme Cardoso (https://www.facebook.com/guilherme.cardoso1?epa=SEARCH_BOX)

13-07-2020

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Texto da autoria e imagem do arquivo de Guilherme Cardoso

Nos anos 40 a comissão fabriqueira da igreja dos navegantes de Cascais decidiu terminar as torres sineiras que ficaram inacabadas durante pelo menos dois séculos.
Foi montado um estaleiro junto à igreja onde canteiros da região lapidaram as cantarias que revestes e decoram os campanários.

D. António de Castelo Branco, registou o momento em que um velho canteiro da localidade de Galiza, lapidava um bloco de lioz branco da região, a maceta e escopro de dentes, dando-lhe a forma de cruz que actualmente encima o frontão do templo.

Guilherme Cardoso (https://www.facebook.com/guilherme.cardoso1?epa=SEARCH_BOX)

11 Julho 2014

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