Texto de autor


Autora: Ana T. Freitas

Há dias …

Há dias que a gente se lembra tanto de tanto …

Hoje, o meu irmão mais velho faz anos, lembrei-me agora! Como faço todos os anos, telefonei-lhe e felicitei-o.

Hoje, telefonei à minha mãe, como faço todos os dias. Lembrei-me de lhe pedir para me ensinar a podar as minhas videiras, apenas duas, que se tinham multiplicado em três, mistério da natureza! Já sei que não é a altura para o fazer, que já o devia ter feito, adiantei-me ao ralhete.

Hoje, a minha mãe ralhou comigo, como acontece com frequência por isto ou aquilo! Lembrei-me que a minha mãe continua a ter as suas regras como as únicas verdades, para si e para os outros.

Hoje, a minha mãe ainda me vê como uma catraia, como vê sempre! Que nada sabe da vida, irresponsável! Lembrei-me que alguns conflitos tivemos em situações mais delicadas ao longo da vida.

Hoje, a minha mãe teve razão, como poucas vezes a teve! As videiras já tinham rebentos viçosos, fetos verdinhos, alguns dos quais, doridamente, tive que cortar. Lembrei-me que, por vezes, isso tem que ser.

Hoje, a minha mãe muito me ensinou sobre a arte de podar, como muitas vezes me ensina sobre a sua culinária. Lembrei-me que frequentemente esta situação me acalenta.

Hoje, a minha mãe despediu-se de mim despachadamente, como tantas vezes me despacha. Lembrei-me que lhe interrompi algum programa televisivo do seu interesse ou a reza do terço.

Hoje, passei o resto do Sol desta tarde com o meu Pai. Absorta fiquei a escutar o tique-taque cadenciado da tesoura que, sabedora, carinhosamente debruçada ia cortando os cabelos esguedelhados e espigados das videiras em bardos à espera. Era uma música vinda das entranhas da terra, do fundo dos tempos que, com ternura, rasgava o silêncio, afagava o Douro lá em baixo, ecoava nos montes num eterno retorno e enlevava os céus num apaziguamento poético …

Hoje, um amigo telefonou-me e revelou-me um pouco do tanto que, saudosamente, se tinha lembrado …

Ana T. Freitas – Coruche, 08/ 11 de Abril de 2020

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Autora: Graça Patrão

Cá estamos  coronavírus   covid 19

Fulgurante filme  de  ficção   em que uma jovem Mãe  amamenta o filho recém nascido.

Com  máscara  viseira  luvas.   Entreaberta  apenas   a  ponta do seio   e  o  bébé  olhando 

a   mãe    vê    e não  estranha    continua  a ser  a sua  mãe  –  tem a certeza, por isso pode alimentar-se  dela    amá-la  e   reconhecê-la    quando    num dia futuro   vir  a  mãe sem máscara,   os  olhos ternos   o cabelo  macio  e   nesse dia    já  saberá  dizer:

 – Mãe, estamos aqui…que planeta é este? (perguntará)

– e a Mãe dirá:

– Filho, não sei! Acabámos de chegar…   ainda não foram  dadas instruções  sobre o funcionamento  desta nova  vida    sem máquinas    sem horários complicados…Vamos continuar a orientarmo-nos pela luz do Sol!

A Mãe sorriu: o filho tinha crescido tanto!

Graça Patrão,18-03-2020

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Autor: Eduardo Martins

CORONA VIRUS

A CORONA DA MÃE, E O CORONALHO DO PAI

O revolucionário que com voz de quem tudo come,

bramava: “DE PÉ Ó VÍTIMAS DA FOME!”,

agora grita para nós: “ENCLAUSURADOS DO VIRUS!

 NÃO PONHAM O PÉ LÁ FORA!

NEM AO BICHO DÊEM TIROS!”

Muito pouco então nos resta

senão fingir que “hoje cá em casa há festa!”

nem que seja do “Pijama”,

ou até mesmo do “Roupão”…

seja roncando na cama,

ou arrastando o pé no chão…

Ou vendo a CMTV,

 que repete imensas desgraças, e as revê…

embora esteja a perder o primeiro lugar… o quê???!!!

Sim! A concorrência “Feicebuqueira”

tem arranjado maneira,

de nos animar, não nos contando misérias,

mas mostrando umas pilhérias,

disparatadas Q.B.

para levantar o moral desta vida de clausura, já se vê…

 Termino esta intervenção “Coronária”, citando o Raul Solnado,

ultimamente muito glosado,

às vezes com alguns matizes:

“Se conseguirem… façam favor de ser felizes…”

Eduardo Martins – Carcavelos, 24 de Março de 2020

CORONA RAP

O Corona anda numa fona,

a dar-nos cabo da mona,

e do resto dos corpinhos,

seja em grupo ou sozinhos!

Parece que veio da China e dum morcego,

e não nos deixa em sossego!

Mas há quem diga que veio doutros lados,

ali duns norte americanos unidos estados…

e que se espalhou de uma forma total,

fosse por acaso ou fosse intencional”!

As teorias conspirativas,

são muito imaginativas!

Eu agora junto a derradeira,

e esta é que é de facto verdadeira!

Foi o Fleming! Não o da penicilina,

mas o Ian! Que não tinha nada a ver com medicina,

mas criou o Bond, James Bond,

e está agora, sabe-se lá por onde,

a inventar mais uns agentes do mal,

que criaram um coronavírus fatal,

para darem cabo da população mundial toda!

E para este seres maléficos, o resto que se …

Eduardo Martins – Carcavelos, 26 de Março de 2020

POEMA QUASE ERÓTICO,

(OU SIMPLESMENTE VIRÓTICO?)

Eu andava numa fona,

e nunca mais vinha à tona

a rima que eu queria…

para rimar com CORONA…

À mente só me surgia

aquela da Margarida que ia à fonte

com sapatinhos de lona,

mas que escorregou, partiu a bilha,

e espetou os cacos na testa…

Claro que ainda não foi desta

que a pobre da Margarida,

embora estando ferida,

e alegadamente infectada,

 chegou a ser internada…

nem chegou a ser testada,

e nem sequer foi fadada

para poder ser tratada…

E a rima tão procurada,

nos entrefolhos da mente,

não se sente nem pressente…

ter vontade de subir…

De subir ou de se vir?

De ser vír…us, ou  re…virus…alho?

Quero rimar com… tele trabalho…

Borrifo-me com algum orvalho…

Como bacalhau com alho…

Sinto-me às vezes paspalho…

E eu já estou muito alarmado…

não sei se fico confinado,

e acabo já com o poema,

ou contrariando o decretado,

vou por aí desorientado,

buscando a porta de um talho

para pendurar lá o tema…

Por muito que se imaginasse,

que se pensasse, ponderasse,

desejasse, avaliasse,

avançasse, recuasse,

por muito que eu me desinfectasse,

por muito que eu continuasse

e nunca mais lá chegasse

por fim, disse COVIDASSE!

FINDASSE!!!

Eduardo Martins – Carcavelos, 1 de Abril de 2020

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Autor: Jorge Castro

Contra o vírus Corona canalha

– destinada ao dia em que a Constituição Portuguesa cumpre
o seu 44º aniversário, reconstruí a letra desta canção, a ser trauteado com a música do hino «Venceremos», do tempo do Salvador Allende, divulgada por cá pelo Samuel, e que poderá,
assim espero, constituir uma breve panaceia para a clausura:

Com a máscara que nos protege 
com o gel de lavar cada mão 
com o rabo sem sair de casa 
lutaremos contra a infecção 

mas se o vírus continuar teimoso 
prolongando a nossa reclusão 
nascerá outro dia radioso 
… nem que seja lá mais para o Verão 

Refrão:  

Venceremos, venceremos 
com as luvas que temos na mão 
venceremos, venceremos 
o Corona filho de um cabrão (bis) 

contra o vírus Corona canalha 
que nos invade de norte a sul 
nesta guerra em que não há metralha 
que não nos falte o sabão azul…  

E depois de passar esta crise
a darmos de alegria pinotes
lembremo-nos de quem mais precise
e cuidemos dos nossos velhotes…

(Espero que o Samuel me perdoe este dislate, mas tanto confinamento não deixa de me provocar perturbações nalguns neurónios…)

E, não nos esqueçamos, para o bem de todos, que a Constituição Portuguesa não está de quarentena! 

Jorge Castro, em 02 de Abril de 2020

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Autora: Fátima Camilo

Cá me vou acantonando
vendo os dias a passar
do quarto para a cozinha
e para a sala de jantar
dou um salto à varanda
ver o que é preciso regar
passo pelo WC
também tenho de aliviar
fico depois no escritório
porque estou a trabalhar
quando chega o fim do dia
lá vou eu desinfectar
puxadores e maçanetas
e o que mais possa tocar
mais a roupa para a máquina
que não pára de lavar
chega a hora das notícias
nada de bom a registar
valha-nos a música grátis
que a TV está a passar
o teatro e bons momentos
é a net a disponbilizar
e com toda esta azáfama
está a noite a chegar
isto é mesmo um sufoco
até já me falta o ar
e passou-se mais um dia
fiquem bem, vou-me deitar!

– Fátima Camilo, em 29-03-2020

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