Por razões de todos sobejamente conhecidas e quebrando um salutar hábito que já leva vários anos de existência, neste ano de 2020 não poderemos dar, nos moldes habituais, o nosso contributo à comemoração desta data matricial.
Mas se estamos impedidos por razões óbvias a fazê-lo nesses moldes habituais, nada nos impedirá de o celebrar, de modo alternativo, mas com idêntica exaltação. Aqui vos deixamos duas sugestões, com as quais estamos solidários:
Do Gabinete de Comunicação do Município de Oeiras
Comemorações do 25 de Abril de 1974 Online
Da Associação 25 de Abril:
E um poema alusivo da autoria de Fátima Camilo:
Quarenta e seis anos passaram
desde que chegou a liberdade
numa manhã serena de Abril
com cravos, soldados e felicidade
E o povo saiu à rua
em apoteótica euforia
cantou, chorou, brindou,
na festa que durou até ser dia
Já vai na meia-idade e liberdade
nascida em Abril de madrugada
formosa e nem sempre bem segura
caminha em frente determinada
Cabe-nos a todos a responsabilidade
de manter vivo este legado
fazendo sempre mais e melhor
por um país equilibrado
tornando os ideais de Abril
na melhor história da humanidade
Mesmo confinados em casa
por culpa de virus traiçoeiro
será cumprido Abril,
o dia limpo e inteiro
e mesmo sem cravo na lapela
cantarei Grândola à janela!
Corria o ano de 1972. Eu já tinha o meu estatuto legalizado em França, como refugiado político, e um passaporte concedido pelas Nações Unidas. Conseguira inscrever-me num Curso de Estudos Especiais em Cirurgia Geral no Hospital Purpan, em Toulouse, e obtivera uma bolsa de estudos da Fundação Calouste Gulbenkian.
Com uma licenciatura portuguesa em Medicina, não tinha a mínima hipótese de poder trabalhar como médico em qualquer parte da França. Com sorte, estava a trabalhar como ajudante de enfermagem, “au noir” (clandestinamente). E eu queria especializar-me em Cirurgia Cárdio-Vascular. Por isso, fiz uma pesquisa dos principais centros médicos com aquela especialização, em todo o mundo. O mais próximo ficava na Suíça, em Genève. Assim, apanhei o comboio para aquele país.
À chegada, fui retido no posto fronteiriço durante quase duas horas. O meu estatuto de refugiado político despertava desconfiança nas autoridades. Para mais, eu estava de fato e gravata, o que era estranho para a minha idade, quatro anos após o Maio de 68 em França. Finalmente, deixaram-me passar e pisar terras helvéticas.
Fui directamente para o Hospital Cantonal de Genève, ao serviço de Cirurgia Cardio-Vascular, para falar com o Professor Charles Hahn, uma das sumidades mundiais naquela especialidade. Espantosamente, fui recebido, com muita cordialidade. Expus a minha situação e as minhas ambições e ele esclareceu-me: só dali a cerca de dez anos ele teria uma vaga para eu, eventualmente, poder entrar como interno. Até lá, já as vagas estavam todas preenchidas. Sugeriu-me ir trabalhar, entretanto, como clínico geral, no Hospital de La Chaux-de-Fonds, que precisava de um médico.
A minha decepção não podia ser maior. A possibilidade de trabalhar como clínico geral em La Chaux-de-Fond durante uns bons 10 anos, até ter uma hipotética entrada numa especialização em cirurgia cardio-vascular, estava fora de questão. Não havia justificação para eu prolongar a minha estadia na Suíça.
Dirigi-me à estação ferroviária e comprei um bilhete em 3.ª classe de regresso a Toulouse, no comboio da noite. Não me podia dar ao luxo de pagar um quarto em Genève e dormir numa cama, nessa noite. Tentaria dormir no comboio.
Comprei uma sanduiche e uma garrafa de água no bar da estação. Foi a minha refeição do dia.
Na hora de entrar no comboio, procurei o meu lugar. As carruagens estavam divididas em compartimentos fechadas por portas, com um banco corrido de cada lado da divisão. Cada banco era destinado a três pessoas. O meu compartimento estava vazio e eu achava-me cheio de sorte. Àquela hora a frequência era muito reduzida e talvez eu me pudesse estender num dos bancos e dormir na horizontal. Foi uma pura ilusão. À hora da partida entrou um homenzinho baixo, de óculos, com uma malinha, boina basca na cabeça e ar ofegante. Perguntou-me se a carruagem tinha mais algum passageiro, ao que eu respondi negativamente. Ele tirou a boina e instalou-se no banco em frente ao meu.
Mal o comboio partiu, preparei-me para me estender no banco e tentar dormir, mas o homem meteu conversa comigo. Perguntou-me que idade eu tinha, de onde era, para onde ia, o que eu fazia. Eu, muito contrariado, lá fui respondendo, desejando que o homem se calasse. Qual quê, ele não parava de me fazer perguntas e eu desesperava. Eu disse que era médico e refugiado político em França, e ele informou-me que era padre e que gostaria muito de ter a minha opinião sobre vários assuntos. E a conversa começou a fluir, espantando o meu sono e cansaço.
O primeiro tema foi o problema do aborto. Na época, eu era absolutamente contrário a qualquer tipo de aborto que não fosse para salvar a vida da grávida, em caso extremo. E ele contrapunha que em determinadas circunstâncias era preciso ponderar muito bem os condicionantes. Queria saber o que eu achava em situações de violação, de estupro, de prostituição, de condições de miséria extrema. E queria que eu apontasse soluções para as situações extremas em que eu me opunha ao aborto. Para minha surpresa, ele tinha pontos de vista de tolerância, que eu não aceitava, e foi justificando, com lógica.
Desse tema passou a outro, e mais outro, e mais outro. Todos diferentes, de grande interesse e importância.
Quando dei por ela, era manhã e o comboio parava em Toulouse, com destino a Paris. A noite passara num instante, numa das conversas mais apaixonantes que eu tive em toda a vida. Eu saía ali e ele seguia para Paris, para o convento de Saint Jacques. Despedimo-nos, pediu a minha direcção e deu-me um cartão de visita seu, que eu guardei no bolso, sem olhar.
Cheguei a casa, desanimado com a minha deslocação a Genève, mas enriquecido por uma magnífica troca de ideias. Beijei a mulher e os filhos, arrumei a pasta e o casaco e lembrei-me do cartão de visita. O nome não me era estranho: Hervé Legrand. As notícias do dia esclareceram-me.
O padre era um dominicano francês de grande relevo, pelos artigos que li nos jornais. Regressava de Genève, onde representara a igreja Católica numa comissão acabada de criar entre a Conferência das Igrejas Europeias (KEK) e o Conselho das Conferências Episcopais Europeias (CCEE), que englobava representantes católicos, protestantes, ortodoxos e anglicanos. Uma importantíssima reunião das várias religiões cristãs.
Dias depois, recebi uma carta do padre Hervé Legrand, com um artigo seu, muito interessante, sobre o problema do aborto. Com grande pena minha, perdi-o na minha mudança para o Canadá.
Como diria Fernando Pessa, do homem de boina basca: “E esta, hein?…”
Era uma vez um pequeno Grão de Areia que vivia numa praia que tinha uma fortaleza, surfistas e outros atletas, muitas pessoas a andar de um lado para o outro e até um farol lá ao longe.
Muitas vezes o Grão de Areia pensava se era realmente bom viver ali. Afinal nunca tinha sossego, nem de noite nem de dia, ora por causa das pessoas que andavam sempre a pisá-lo, ora por causa das ondas que não o deixavam dormir.
Já várias vezes lhe tinha passado pela cabeça mudar-se para outro sítio, mas nunca tinha viajado e por isso não sabia se o outro sítio era longe ou perto, nem quanto tempo demorava a chegar lá.
Na verdade também não tinha relógio. Sabia apenas que havia dia e noite. Que o Sol não estava sempre no mesmo sítio e que a Lua não era sempre igual.
Um dia estava o Sol já perto do forte, quando um surfista começou a despir o fato que tinha usado para escorregar nas ondas. Num repente o Grão de Areia decidiu que aquele era o momento para experimentar sair dali e ir para o tal sítio. Escondeu-se muito bem na bainha da manga do fato e apesar de ter estado prestes a dar uns valentes trambolhões de cada vez que o surfista sacudia a areia do fato, lá conseguir escapar e começou a sua primeira viagem.
Era tudo novidade!
De repente o surfista parou. O Grão de Areia preparava-se para espreitar a sua nova morada, quando começou a ouvir barulho e a sentir a manga a ficar ensopada. Nem ele sabe como conseguir resistir a tamanha tromba de água.
Quando finalmente espreitou para perceber onde estava, olhou e viu lá ao fundo o mar, o forte e o farol. Percebeu então que estava no duche da praia. Até agora só conhecia este lugar pelo barulho que ouvia da água, sobretudo à noite, quando os forasteiros abriam a torneira e o acordavam.
Depois desta enxurrada fez-se silêncio.
Teria acabado a viagem? O melhor era manter-se na bainha e aguardar…
Num gesto brusco, o fato que entretanto estava escorrido, foi dobrado e guardado num saco.
Não tem graça nenhum estar num sítio que se mexe, que é escuro e não tem ar. Ainda por cima esta mudança de sítio é mais longa. Parece que nunca mais acaba.
Para quem nunca tinha feito uma viagem, andar assim tanto tempo, mal instalado e ansioso, não é fácil e pior ainda para quem sempre viveu ao ar livre e agora nem sabe tão-pouco por onde está a passar…
O Grão de Areia já estava a admitir que não devia ter-se metido nesta aventura, mas agora não havia nada a fazer.
Um estrondo! Um valente safanão! Vozes de pessoas, uns sons que parecem de animais… e ele que só conhecia o som das gaivotas e dos golfinhos…
Finalmente saiu do escuro. Ainda havia Sol, mas por precaução continuava dentro da bainha.
Fez-se silêncio. Era altura de tentar sair do esconderijo. Espreitou e apesar de estar um pouco longe do chão, arriscou saltar.
Olhou em volta. Era tudo novo. O sítio, não era como o Grão de Areia imaginava. Na verdade, ele não tinha formulado nenhuma ideia concreta. Só sabia, de ouvir dizer, que sítio era uma coisa que existia, agora se era belo ou feio, se tinha cor, se era silencioso ou barulhento… não sabia mesmo nada.
Nesta mistura de entusiasmo e receio, ouviu algo que não conhecia e num ápice ficou literalmente esborrachado por algo quente e peludo.
Susteve a respiração e ficou ali mudo e quedo….Assustado e cansado, adormeceu!
Nunca tinha dormido tão quente. Nem nas noites de Verão, mesmo aquelas em que não corre uma aragem.
Aquilo que apareceu sabe-se lá de onde, saiu finalmente de cima do Grão de Areia.
Silenciosamente abriu os olhos e viu a Lua. Devia continuar a dormir, mas faltava-lhe o embalo das ondas. Foi uma noite e claro!
Quando o Sol nasceu, ensonado e triste, pensou no seu mar de prata. No
farol de pedra branca que brilhava ainda mais nas manhãs límpidas, mas
tinha escolhido sair da praia e tinha de viver com essa realidade.
Todos os dias o fato saía do estendal. E todos os dias o Grão de Areia imaginava a mesma rotina. Vai ao mar, sai do mar, sacode, passa por água, viaja sem luz e sem ar, estende e seca ao luar…
Os dias não tinham nada de novo. Não havia por ali gente, nem atletas, nem a água daquele chuveiro que o acordava de noite.
Estava na hora de tentar regressar à sua praia, de onde nunca devia ter saído. Era preciso encontrar um plano, porque agora no chão, como iria saltar para o seu esconderijo?
Há já algumas luas e sóis que o fato estava ali pendurado sem sair do sítio, o que era muito estranho!
Num final de tarde, lá vinha ele. O surfista vinha ao telefone com alguém… Ouvi-o dizer que estava triste por não poder ir para o mar, que havia um vírus e que era proibido andar na praia, mas que acatava e ficava em casa. Por muito que lhe custasse, ficava e pronto!
Nada naquela conversa fazia sentido para o Grão de Areia, que vivia há uma eternidade na praia e que nunca se constipou nem ficou doente. Muito menos ouviu falar de vírus. Pelo areal e pela beira-mar, as únicas coisas menos boas de que se fala, são as alforrecas, as caravelas portuguesas, o peixe-aranha e o camião que limpa e alisa a areia, mas que invariavelmente o deixava sempre fora do seu lugar.
Era cada vez mais penoso dormir. Não era o único. O surfista também não conseguia e por essa razão vinha muitas vezes dar umas voltas ao sítio. Andava de um lado para o outro inquieto, nervoso, triste. Às vezes via-o chorar e chorava com ele.
Estavam ambos no sítio, impedidos de sair dali, sem poder ver o mar. O Grão de Areia, no pouco tempo que dormia, sonhava…Sonhava que um dia ia conseguir saltar de novo para o esconderijo para fazer a viagem de regresso à sua praia, de onde via a fortaleza, o farol, o Sol e a Lua.
E sonhava tão alto, que até o pólen das flores que viviam no terraço o ouviam dizer:
Juro que nunca mais me vou aborrecer com o barulho da água que me acorda, nem com o frenesim das pessoas, nem com as ondas agitadas. Vou valorizar ainda mais o meu modesto viver, o meu espaço, os meus vizinhos grãos que são tantos e a quem eu pouca importância dei toda a minha vida, vou apreciar mais a brisa, o despertar do dia e o entardecer, o vozeirão do vendedor das bolas, os gritos das crianças…
Fontes geralmente desinformadas confidenciaram-me que o covidamento nas praias vai ser assim:
1 – Cada autarquia que contenha espaços balneares vai providenciar a divisão do areal em talhões numerados.
2 – Serão estabelecidas bancas, protegidas por forças policiais, numa entrada determinada de cada praia, que fornecerão as senhas de acesso para cada cidadão, a partir das 8 horas da manhã.
2.1 – Admite-se que as autarquias mais pobres permitam o acesso gratuito, enquanto as mais abonadas (Cascais, Oeiras, etc.,) possam vir a cobrar até 500 € por pessoa, a determinar pela autarquia, como fundo a reverter a favor da aquisição de luvas e de máscaras para os pobrezinhos do respectivo concelho.
2.2 – Também competirá às autarquias a definição de preços diferenciados consoante o talhão se encontre mais próximo ou mais afastado do mar e da hora do dia.
3 – Quando todos os talhões estiverem preenchidos, os restantes interessados ficam em fila de espera.
4 – Sempre que um cidadão abandonar a praia, devolve a sua senha e será anunciado em altifalantes para o efeito qualquer coisa como: – Tendo abandonado o espaço balnear o cidadão com a senha 73, chamamos o cidadão com a senha 478, que poderá ocupar o talhão 95, junto ao mar… Deve acautelar os seus pertences, pois a maré está a encher…
5 – Quem tiver crianças deverá requerer uma senha específica para espaços (talhões) destinados a fazer castelos na areia.
6 – Almoços na praia com mais de duas pessoas em talhões contíguos estão interditos.
7 – Haverá funcionários de praia que permitirão o acesso aos banhos de mar em grupos de um máximo de 10 pessoas de cada vez, devidamente distanciados por cerca de 15 metros entre cada participante.
7.1 – É absolutamente interdito urinar no mar por óbvios riscos de contágio.
8 – É obrigatório o uso de máscara e de luvas durante o tempo de ocupação balnear.
8.1 – No final da época, haverá um concurso de caras marcadas pela máscara, sendo atribuído um prémio especial, a nível nacional, a quem ficar mais parecido com um guaxinim.
Albertina tinha mais de cinquenta anos, na década de sessenta do século passado. Vivia no Porto, na rua Aires de Ornelas, do lado esquerdo quando se desce a rua em direcção à Av. Fernão de Magalhães, perto da casa de meus pais. Era viúva e a sua filha única abandonara duas crianças aos cuidados da avó. Albertina não sabia ler nem escrever, mas era habilidosa de mãos e muito esperta. Para sobreviver e criar os netos, deitou mão à obra. A casa dela era um corredor, com a porta da rua num extremo, e uma janela, no outro extremo. Perto da janela tinha uma mesinha e três bancos. Sobre a mesa um fogareiro a petróleo, para cozinhar para ela e para os netos, três pratos, três malgas e alguns talheres. Na parede, três ou quatro tachos de vários tamanhos, por cima de uma torneira. A meio do corredor tinha uma cama de ferro, onde dormia com a neta. Por cima desta cama tinha colocado outra cama de ferro, como beliche (feito por ela), onde dormia o neto. Casa de banho não existia. Uma pia de despejos, no chão, junto da janela, servia de retrete. A cara era lavada num alguidar, que também servia para lavar a loiça. O banho semanal era tomado num grande alguidar de folha de Flandres. Todas as noites, mal acabava de engolir um parco jantar com os netos, metia-os na cama e ia dar uma volta pelas redondezas, à procura de guarda-chuvas partidos, deitados ao lixo. Quando os encontrava, se o pano estivesse bom, levava o guarda chuva inteiro. Se o pano estivesse roto, arrancava-o e levava para casa a haste e as varetas. Depois, pacientemente, desmontava as varetas em bom estado, que guardava num molho. Quando as hastes de madeira eram aproveitáveis, também as guardava. O resto, ia para o lixo. De manhã cedo, dava um copo de leite e uma bucha de pão a cada neto, levava-os à escola e regressava a casa. Metia o molho de varetas debaixo do braço e levava nas mãos um rolo de arame fininho e um alicate. Pelas ruas ia anunciando: “Arranjo de guarda-chuvas!”. Quando alguém lhe entregava um guarda-chuva para arranjar, ela sentava-se no chão, descalçava as socas e largava o xaile, para ficar mais à vontade. Desmontava as varetas partidas, selecionava outras do mesmo tamanho no molho que trazia, e fazia a reparação. Cobrava “duas coroas”, ou seja, dez tostões, por cada vareta substituída – o suficiente para comprar um chicharro. Era pouco, mas melhor do que nada. Mas o que arrecadava numa semana, não chegava para sustentar os netos. Tinha de encontrar outro complemento financeiro. Como o corredor, que era a sua casa, tinha um bom pé direito, pensou numa solução para melhorar a sua difícil situação económica. À entrada da porta construiu um estrado, com balaustrada, onde colocou duas camas de ferro estreitas, em linha. Por baixo de cada cama, colocou um penico. O acesso era feito por um rudimentar escadote de madeira. As duas camas do estrado foram alugadas a jovens operários de fracos recursos financeiros, que lhe pagavam alguns escudos por mês. De noite, pelo sim, pelo não, Albertina tirava o escadote, que recolocava de manhã cedo. E por baixo da saída do estrado, a substituir o escadote, tinha o cuidado de colocar um grande molho de varetas, ao alto. Se alguém tentasse descer, seria irremediavelmente espetado por aqueles ferros aguçados. E assim ia criando os netos. Era uma mulher fora de série. Diz o povo: “não há mal que sempre dure”, e assim foi com Albertina. Mas isso é outra história…
Abril corre atrás de Maio Ao Rui Pinto, com um abraço
Abril corre atrás de Maio, de um mês qualquer por vir, na vontade que todos une de se expiar a sombra que nos persegue e separa. À distância, pressentimos o que antes vigorava o dia-a-dia, do simples gesto de proximidade ao calor da troca de um abraço ou de um beijo. Estará para breve, seja esse o tempo que for, o rompimento da teia invisível que nos amarra. E no entretanto, nesse intervalo de vida que nos tolhe, o que fazer quando a necessidade se torna absoluta de querer estar com quem se quer estar, ou de se dizer adeus, não até breve, mas até sempre?
Hoje morreu um amigo, de há muito. Lutou o que foi possível lutar, hora após hora, durante anos. Soçobrou no limite das forças que reuniu para um combate que não venceu, no meio de um outro em que todos somos compulsivamente soldados, despidos de farda, de arma que seja, apartados estando, sem espírito de corpo ou forma gregária, antes cada um por si para salvaguarda do outro. Estranha forma de estar, que corrompe a essência do que somos.
O Rui partiu numa viagem de ida que todos faremos. Nesta escrita de ausência, amigo, abraço-te, como sempre abracei, dando corpo ao instinto de sentir o que anima o ser, incondicionalmente, e lembro-te, como sempre lembrarei, até um reencontro em latitude incerta.
2024-11-02 - No próximo dia 2 de Novembro, sábado, às 14,30h, vai acontecer a apresentação do livro a coragem da cor , da autoria da nossa associada Ana T. Freitas, na Feira do Livro de Coruche 2024. A apresentação vai estar a cargo de Domingos Lobo.
Diz-nos a autora: «Este livro foi concebido, como os meus outros, no nosso país, parido no Brasil, em S. Paulo e lançado naquele país na Bienal do Livro de S. Paulo 2024, em Setembro passado. Depois do lançamento em Portugal, em Oeiras, na Espaço e Memória, será uma felicidade poder contar consigo em Coruche. Coruche é também o canto onde a "a coragem da cor" se aconchega».
Comentários recentes